Anabela Kohlmann Ferrarini
Receita de alegria
Ingredientes
- 01 criança de pés descalços;
- 01 dia de sol;
- 01 jardim de grama verdinha;
- Água e terra à vontade;
- 01 xícara generosa de amor de mãe, amor de pai;
- 01 dúzia de gargalhadas (daquelas que se multiplicam e contagiam);
- 07 colheres de arco-íris, uma de cada cor;
- 01 pitada de travessura (ou duas, ou cinco🤭);
- Brincadeiras, o quanto baste.
Modo de preparo
Num dia sol, pela manhã ou à tarde, quando a temperatura for mais amena, leve a criança ao jardim. Deixe que ela sinta o calor em seu rosto, e que seus olhos conheçam a imensidão do azul, as nuvens de algodão. Quando a brisa passar e beijar seu rosto assim, de leve, faça o mesmo, e encha de beijinhos a bochecha rosada.
Em seguida, diga à pequenina que retire seus calçados e coloque os pezinhos na grama verde. Tempere o momento com meia dúzia de gargalhadas, suas e dela, e não se preocupe se elas se multiplicarem. É um efeito colateral esperado e desejado dessa mistura de ingredientes.
Com uma mangueira, vá jogando água aos bocados pelo jardim e, em jatos delicados, sobre a criança, brincando de chuva, cercando-a de amor sem fim. Quando os raios solares se refratarem, acrescente uma colher de cada cor: vermelho, para dar energia; laranja, para saúde; amarelo, para otimismo; verde, para esperança; azul, para serenidade; anil, para sinceridade; e violeta, para sabedoria.
Deixe que a criança corra atrás de borboletas coloridas, role na grama, suje a roupa, uma pitada de travessura é bem-vinda. Aos poucos, vá formando uma poça d’água, que vai inundar a terra e virar um barro macio, pronto para abraçar os dedinhos da criança descalça. Tire, você também, os seus sapatos, e mergulhe seus pés no barro, junto com ela. Não se preocupe se a sua roupa sujar, um bom sabão a deixará limpinha novamente. Mas a lembrança desse dia, essa, essa permanecerá, indelével, na memória. Pulem na água, formem marolas, joguem as mãos para o alto, rodopiem, abracem o céu, abracem ou ao outro. Aproveite o sol que aquece a pele e aqueça o seu coração. Deixe-se embalar pelas risadas da sua criança, ria junto, ria muito.
Está pronta a alegria, que se multiplicará por muitos dias.
Consuma sem moderação!
Repita a receita à vontade, sempre que necessário.
PS: se você sentiu falta da xícara generosa de amor de mãe, amor de pai, não pense que eu me esqueci: trata-se de ingrediente secreto, infindável, que se derrama abundantemente nessa receita, em cada gesto, em cada olhar.
* Esta crônica integra o livro A crônica poesia da vida (Editora Metamorfose, 2024).